quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Márcio. rsrs :b

No primeiro colegial, com treze ou quatorze anos, eu gostava de um garoto chamado Márcio. Ele era branquinho e tinha os cabelos castanhos cacheados. Ele namorava a Priscila, uma menina bonita e riquinha e bailarina e de cabelos lisinhos e amiga de todas as outras meninas iguais a ela. Mas a Priscila e suas amigas não faziam sexo. E todo mundo era louco pra fazer sexo com elas. Eu era o que se podia chamar de beleza indefinida. Não era de todo mal, mas também não era a óbvia lindinha. Cabelo nem pro liso e nem pro cacheado e nem pra nada que pudesse ser um estilo ou moda ou até mesmo um cabelo. Roupas do mesmo jeito. Nem feias, nem bonitas. Corpo do mesmo jeito. Nem magra atlética, nem gordinha desleixada. Um meio do caminho que piorava muito quando era dia de uniforme. Não chegava a andar com as meninas feias mas nunca fui amiga da Priscila e das amigas dela. Eu era média.
Foi daí que eu tive a ideia. Eu tinha algo que aquelas meninas não tinham: eu fazia sexo. E calmamente caminhei até o Márcio, na hora do recreio, e falei: quatro horas na minha casa, eu vou fazer sexo com você, tudo bem? Ele respondeu sério, sem rir, sem parar pra pensar: me passa seu endereço que eu peço pra minha mãe me levar. Sai pisando firme, com os olhos apertados e com as unhas enfincadas nas palmas das minhas mãos. Minha vontade era sair correndo e só voltar pra escola na outra encarnação. O que tinha me dado?
Pois bem, às três da tarde, sem conseguir conter o coração e o intestino, tento expulsar minha empregada de casa. Mas o que você vai aprontar? Sua mãe sabe que vem um garoto estudar aqui? Maria, cadê aquela minha calcinha de renda branca? Convenço Maria a ir embora às quinze pras quatro. Prometo a ela que, se ela não contar nada pra minha mãe, a deixo ir embora todo dia mais cedo e também não conto nada. Quatro em ponto, vejo da janela do meu quarto um Escort vermelho parando em frente ao meu prédio. Márcio desce cheio de livros. Sua mãe o acompanha até a portaria. Ele entra. Meu coração vai parar na língua. Eu vou fazer sexo. Eu consigo fazer. Ele vai enfiar o pinto dentro de mim. Eu vou ficar bem quietinha até parar de doer. É isso. E amanhã, na hora do recreio, ele vai…. Ele vai o quê? Continuar namorando a Priscila, que é bailarina e tem o cabelo lisinho e é amiga das meninas mais bonitas da escola. E eu? Eu vou ter gêmeos, que ele não vai assumir, e eu terei que ir à escola e fazer as provas apesar da barriga. E serei motivo de fofoca pra sempre. E ele não vai falar comigo porque não sou exatamente linda e nem exatamente muito normal e ele nem é da minha turma. Seu pai vai ligar pro meu “precisa de alguma coisa?”. Meu pai não vai querer falar com ele, porque quem resolve as coisas mais difíceis é a minha mãe. E minha mãe não vai querer falar com ele, porque vai estar internada pelo susto. A campainha toca. Do olho mágico, vejo ele puxando de dentro de um livro e guardando no bolso uma fileira animada de camisinhas. Me sinto ofendida: esse menino tá achando mesmo que vou transar com ele?
Eu era virgem aos quatorze e assim fiquei até os vinte e um anos de idade. Mas o Márcio, o garoto mais popular e bonito e charmoso e gente boa da escola, estava na minha casa. Abro a porta. Vejo que ele trouxe os livros de química, física e gramática. Tentando parecer descolada mas tremendo muito, pergunto qual matéria ele quer estudar primeiro. Qual? Ele ri, ensaiado: anatomia. E me empurra pro sofá. E vai direto pros meus peitos, sem nem me beijar na boca. Ah, então acho que é assim, né? Que se trata uma puta ou alguém de quem não se gosta. Aquilo tudo me faz mal demais. Se eu fosse uma princesa, teria um namorado pra ir ao shopping. Mas como sou a garota estranha, ele tenta ver meus peitos. E como eu sempre tive curiosidade em saber como era estar com um garoto realmente lindo e desejado, eu deixo. Mas se eu fosse uma princesa, ele estaria agora nervoso pra pegar na minha mão. Triste, triste, vou ficando tão triste. Por que não sou uma princesa?
De repente. Puft. Scatapuft. Trililililim. Não sou mais a garota de treze ou quatorze anos, estranha, com o peito direito pra fora e um garoto inexperiente e afobado em cima deles. Estou ao lado da cena, escrevendo esse texto. Márcio é um ótimo personagem para uma historinha. A garota de calcinha de renda branca que mandou a empregada embora é uma ótima personagem também. Não sinto que ele tenta abrir a minha calça, mas leio “ele tenta abrir a calça dela”. Não sinto que ele começa a querer enfiar sua mão dentro da minha calça, mas leio “e ele começa a enfiar a mão dentro da calça dela”. E fico feliz quando, no parágrafo seguinte, descubro que a garota levanta e grita “chega, desculpa, mas eu não consigo, vai embora, por favor, eu não sei o que me deu de deixar você vir aqui”.
Márcio, frustrado e muito tímido, veste sua roupa, devagar, como que tentando ainda pensar em algo que salvasse sua tarde de sexo selvagem. Muito provavelmente a primeira. Ela fica deitada, com a camiseta e a alma amassadas. Márcio vai embora. Ela sente uma dor profunda e se promete duas coisas: um dia vou ser uma escritora e um dia vou ser uma princesa.

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